No mês de agosto a cidade de Curitiba viveu uma situação curiosa: por ocasião da restauração da estátua de Tiradentes, do escultor João Turim, no Centro, foi encontrada uma garrafa de aspecto muito antigo com conteúdo misterioso – dentro dela havia um papel enrolado e um pedaço de metal. Não se sabia desde quando ou o motivo de essa garrafa estar ali, no pé daquela estátua. Não era tão simples abri-la para desvendar seu mistério pois o contato com nossa atmosfera poderia deteriorar seu conteúdo, então técnicos e especialistas estudaram durante dias as melhores condições para fazê-lo.
Por uma semana os curitibanos acompanharam o processo através dos jornais, imaginando diversas hipóteses sobre seu conteúdo... Seria o papel um mapa de tesouro? A indicação de uma passagem secreta? Uma carta revelando um amor proibido?
Nas aulas de Filosofia, a turma de 6° ano também levantou algumas hipóteses sobre o conteúdo da garrafa, algumas mirabolantes, outras históricas – todas muito criativas!
A hipótese escolhida pela turma foi a da aluna Ana Paula, pela criatividade e qualidade do texto. Confiram:
"Quarta-feira, 22 de abril de 1927.
Essa carta só poderia ter sido encontrada e lida, se por acaso a estátua de Tiradentes fosse retirada de onde sempre esteve.Vou esclarecer o que, de verdade, essa estátua tem de tão importante, resumidamente assim: Turin é meu nome, e sou o artista responsável pela estátua de Tiradentes, por ela ter vindo para o Brasil e estar onde sempre esteve. Deixei a garrafa embaixo da grande estátua para que nunca fosse descoberta pois, se fosse, era por que a estátua havia sido tirada dali, não é mesmo leitor? Vou começar do começo...
Durante o tempo que morei na Itália, como meu pai , dentista, certo dia, por acaso, conheci Tiradentes, dentista europeu que havia feito muito sucesso na América. Ele me deixou impressionado com sua grande e famosa carreira de dentista, na qual meu pai tinha muita admiração.
Anos depois da morte do dentista, para que fosse verdadeiramente recordado, por muitos motivos familiares até, decidi que levaria para o Brasil uma grande estátua representando-o, que tinha intenção de colocar em uma das cidades Brasileiras nas quais ele havia morado. Cidade de sua morte, Curitiba foi a cidadezinha que escolhi para expor a grande estátua de ferro. Mas como europeu, decidi também que a estátua seria feita na Europa e depois sim que a levaria para o Brasil.
Como tradição de minha família, quando você tem certeza que uma coisa será muito especial, principalmente feita por si mesmo, uma astróloga deve-se sempre ser consultada, para que se algo, até mesmo de pouca importância, fosse dar errado, você possa saber antes mesmo que aconteça.
Com toda a certeza do mundo de que a única coisa que pudesse ganhar com essa estátua era fama e talvez muito dinheiro, fui a uma astróloga e tudo aquilo que havia pensado não veio muito com a realidade...Ela apenas me disse:
– Que fique avisado o futuro, do que acontecerá no presente, com esta tua representação de Xavier Tiradentes.
Fiquei absolutamente maluco.Como assim? Como assim?! Avisar o futuro de que? apenas uma estátua...Uma estátua de Tiradentes...
Dias se passaram e minha ída para o Brasil estava cada vez mais próxima, e ainda não havia compreendido a frase tão misteriosa da astróloga. Em meio de muitos europeus querendo saber quem era Tiradentes, uma senhora me chama, dizendo que tem pouco para me falar, mas que irá deixar muita coisa para eu pensar:
– Cuidado, tome cuidado, sinto que tem muito para tu carregar para que carregue em uma mão só... E não esqueça na menor das consequências de avisá-los...
E sem um segundo para que eu pudesse perguntar um "como assim?" ela já havia ido embora, sem mais palavras, deixando-me muito mais transtornado.
A partir daquele momento passei a olhar para aquela estátua de um jeito diferente: com medo. Decidi então que antes de levá-la para o Brasil, teria de saber de verdade o que tinha de tão importante naquela “coisa de bronze”.
E assim fui em busca de mais alguém que pudesse me dizer, nem que fosse mais uma palavra sobre esta tão misteriosa estátua.
Cheguei então a mais uma astróloga, que me disse algo mais ou menos assim:
– A única coisa que posso dizer é que você deverá levar essa estátua para o Brasil o mais rápido possível...
E ficou quieta por um tempo com os olhos fortemente fechados, e disse:
– E não se esqueça de maneira alguma: coloque essa estátua no lugar com nome de Xavier e o mais importante... AVISE-OS!
E mais nenhuma palavra.
Decidi que levaria a estátua para o Brasil o mais rápido possível mesmo, pois com o ar de preocupada da astróloga que me dissera isso, era por que havia algo de ruim mesmo ali, e se fosse verdade a deixaria lá, e voltaria para a Europa, me livrando assim de qualquer problema.
Quando cheguei ao Brasil, depois de uma longa e cansativa viagem, lembrei imediatamente do que a segunda astróloga havia dito:
– Coloque a estátua no lugar com nome de Xavier.
Mas porque Xavier?, pensava comigo. Como assim "Lugar com nome de Xavier"? Seria Xavier então...Entre tantas ideias, me veio com um ar de mais clareza: "NOME DE XAVIER''...É isso! Xavier Tiradentes! Tiradentes! Era tudo bem mais claro! Mas só me faltava uma coisa... “Não esqueça de avisar o futuro...” me vinha à cabeça toda hora. Avisar o futuro de quê? E como?
Já no dia seguinte, sai pela pequena vila de Curitiba, tentando achar um lugar chamado Tiradentes. Não encontrei absolutamente nada. Assim, em meio de milhões de dúvidas, me veio a resposta de que eu teria que criar o "lugar chamado Xavier". Em poucos meses, a praça Tiradentes foi inaugurada, e só faltava a instalação da estátua. Mas, como eu iria avisar o futuro de uma coisa que nem eu mesmo sabia o que é?
Dias pensando em vão, até que conclui: a única saída seria esta carta colocada em baixo da estátua, que depois desse grande texto, só tem a concluir que: Prestem atenção no futuro! Não sei o que isso significa, mas fiquem avisados!
Meus únicos pedidos seriam: o pedaço de metal que se encontra junto com esta carta é minha assinatura em baixo relevo, que gostaria de pedir que se pudessem, por favor, colocá-la junto à estátua, para que finalmente possa ganhar minha fama...E se for preciso não esqueça de avisá-los: Cuidem do futuro!
Sem mais palavras,
João Turin"
Quem quiser saber mais sobre a garrafa real e seu conteúdo, pode ler a matéria que saiu na Gazeta do Povo.
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Flaviana é coordenadora e professora de Filosofia de alunos do Ensino Fundamental 2. |
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